A sorveteria da Gigoia que virou um simples, aconchegante e elegante Bistrô.
- debarembarra
- 5 de fev. de 2018
- 4 min de leitura

O ator e músico Tchello Andrade posa ao lado da mulher Sheila, da filha Marina e do genro Afonso.
A ideia era resgatar um saudoso hábito, oferecer para as pessoas da Ilha da Gigoia, na Barra da Tijuca, um local, ao mesmo tempo simples e aconchegante, com uma decoração pra lá de requintada, onde famílias inteiras pudessem se reunir para apreciar sorvete com as mais diversas coberturas, e a doçura do açaí no copo ou na tigela.
Era o conceito, conta o ator, compositor e músico, Tchello, apelido de Marcelo Andrade, o proprietário, que divide com a mulher Sheila, a filha Marina e o genro Afonso Góes, o estabelecimento comercial, que depois de alguns consensos, tem o agradável nome de Sr. Cremoso.
De início, teve que dançar com a própria música e ainda ralar no escritório e Sheila, na tarefa quase que inglória de ser professora, mas foi por aí que tirou a renda para a construção do negócio, que deu babado, com a conquista de clientes cativos.
Para dar um refresco na memória é bom lembrar que algum tempo atrás, quando o sorvete chegou ao Brasil, não havia como conservar o produto depois de pronto. Para não esquentar, os comerciantes passaram a anunciar a hora do consumo. Tanto que a primeira notícia de sorvete publicada no Jornal A Província de São Paulo, com data de 04 de janeiro de 1978, informava: “Sorvetes todos os dias, às 15 horas, na Rua Direita, nº 14.”
Houve um surto momentâneo que se espalhou pelas cidades, mulheres casadas e moçoilas prontas ou não a se darem em casamento, que até então mantinham-se estrategicamente afastadas dos bares, cafés, docerias e confeitarias, passaram a invadi-los, inaugurando uma nova tendência que se tornou um saudável hábito, e que trouxe com ele famílias inteiras que se reuniam às tardes para apreciar um delicioso sorvete.
Mas, no Brasil de clima tropical, cuja estação predominante é calor de rachar o ano inteiro, algumas tardes de primavera, um sábado ou outro de outono, e quase que todas as segundas de presumido inverno, nem todo mundo consome sorvete, pois basta cair alguns pingos de chuva e paira no ar o pânico da gripe. E o sorvete, apesar de rico em vitaminas e cheio de proteínas, em todo o país, passou para o segundo plano.
Então, o Sr. Cremoso deu uma repaginada e ganhou ares de bistrô. E como todo restaurante bistrô tem Chef de Cozinha, Sheila Andrade fez o seu melhor e não parou de reinventar brioches com recheios diversos e garante que a massa tem segredo especial que os difere de qualquer outro, pois a receita é de família e foi passada de geração a geração, além de cafés da manhã insuperáveis, empanadas argentinas, tudo com sabor de tirar o chão.
Marina, do alto dos seus 21 anos de idade, cuida da gestão, substituiu o curso de nutrição pelo de gestão empresarial, com vistas a dotar o Sr. Cremoso de voos mais altos. Ela e o pai fizeram curso no Senai e é Marina que administra o negócio, digno de aplausos. Tchello fala com orgulho da filha com algumas lágrimas que avermelham e teimam a escapar de seus olhos.
Os mesmos olhos que se arregalam quando perguntado do esforço, ele mesmo afirma que o que mais gosta é tocar o serviço operacional, ele, a mulher e Marina, com a assistência de Afonso que aplica todo o conhecimento de logística visando maior assertividade na tomada das decisões que guiarão as metas a serem cumpridas, tocam o Sr. Cremoso com força e com vontade. Mas, sem perder a ternura jamais.
Deixa uma mensagem para quem quer ter um negócio próprio. “Não basta apenas ter vontade e sonho, tem que ter direcionamento, foco, arregaçar as mangas e trabalhar muito todos os dias” – declara, com ar de quem apostou todas as fichas no próprio negócio.
E o Sr. Cremoso está se tornando cada dia mais conhecido e bem frequentado. Pessoas já o procuram pensando em se tratar de franquia de um restaurante bistrô internacional. E na verdade parece mesmo, a decoração é toda nos moldes de um autêntico bistrô francês.

Existem algumas boas versões para o termo bistrô, as mais embasadas têm origem na França. Uma data de 1815, quando os homens partiram de casa para batalhar em guerras, deixando suas mulheres sós. Elas, então, para obter algum tipo de renda, abriram suas casas para oferecer bebida e comida rápida. Daí surgiu a palavra bistrô, principalmente devido a esses locais serem pequenos, de muita simplicidade e aconchego.
Entretanto, há historiadores que dizem que a palavra bistrô é atribuída aos russos. A palavra russa, bystro, que significa rápido, durante a Segunda Guerra Mundial, era o nome que os soldados russos gritavam quando entravam nos restaurantes franceses atrás de comida.
Tchello não fala em franquia por enquanto, o que quer mesmo é implementar nova fase no Sr Cremoso, tem planos, mas avisa que não é fácil. É trabalho diário. O resultado é um autêntico bistrô, com um bom cappuccino pela manhã e tardes e noites de bons brioches e sorvetes até para quem gosta de arrebatar uma casquinha.
Mas, a dica é: neste verão de rachar, você tem direito a bombar com uma banana split, descobrir o valor de um Pérola Negra, e exigir um Titanic só seu, todas as vezes que deseje afundar de tanto prazer.
Comments